quinta-feira, 11 de julho de 2013

Reflexão sobre Ciclovias em Portugal

Parece que é uma fraude e uma ilusão construir más ciclovias (pistas? faixas?) . As mal feitas de facto são uma grande maioria em Portugal. Além de que são muito problemáticas quanto à gestão dos pontos de conflito: cruzamentos, entroncamentos ou passagens de velocípedes - apenas decorativas mas sem qualquer prioridade em relação aos veículos a motor (a não ser que se instalem semáforos para velocípedes mas esse é um assunto que ainda permite outras reflexãoes)...


Além disso, é duvidoso que sejam as ciclovias o mais importante para promover a utilização da bicicleta. Sobretudo quando são mal planeadas e executadas, erradamente bidirecionais, parcelares, além de ainda por cima obrigatórias (quando, como em França , poderiam ser apenas recomendadas, dando aos ciclistas a possibilidade de escolha quanto à sua utilização). As ciclovias (pistas cicláveis segregadas ou faixas cicláveis contíguas à via de trânsito)... devem ser o último ponto numa hierarquia de planeamento e gestão tráfego que em primeiro lugar deve tomar medidas de acalmia e redução do tráfego automóvel... Também enquanto as leis portuguesas do Direito Rodoviário não mudarem não vale a pena construir ciclovias por causa dos problemas de segurança em cruzamentos e entroncamentos e enquanto não for dada pela lei a prioridade aos ciclistas em termos iguais aos veículos a motor na regra geral da prioridade, além de ser necessário que a lei também dê a prioridade a ciclistas quando circulem em ciclovias e em passagens para velocípedes... Até que haja tais condições legais será raro ter uma grande extensão de ciclovia bem desenhada e sem pontos de conflitos perigosos em entroncamentos e cruzamentos, sendo enfim, uma «fraude» e um engano defender que as ciclovias são mais seguras para os ciclistas só porque sim... Mas há outras condições e infraestruturas que vale a pena defender já: mais estacionamentos para bicicleta em «U» invertido e mais facilidades no transporte de bicicletas em transportes públicos (autocarros, comboio, barco...)

Já agora em relação a infraestruturas, para quem se queira informar melhor , é bom dar uma olhadela a:

http://www.presto-cycling.eu/en/policy-guidelines-a-fact-sheets/infrastructure-planning

Paulo AGB de Andrade

p.s.- Também aprecio o que o Miguel Barroso diz:

«Ainda sobre Sevilha... Por lá não se fizeram só ciclovias (sim, muitas dela mal feitas, outras nem por isso). Mas foi também à conta de retirar automóveis de muito lugar, principalmente no "casco" antigo. Foi lançado um sistema de bicicletas de uso partilhado. Foram modificadas muitas coisas mais. Tudo junto fez crescer a procura da bicicleta..

Para haver alteração de comportamentos, tem de haver alteração do espaço urbano - e isto implica obrigatóriamente retirar espaço e "direitos" aos automóveis, pois ao longo do sec XX o processo foi precisamente o inverso. Nuns locais com ciclovias, noutros com acalmia, noutros com estreitamento de vias, etc, etc... Mas é ncessário alterar o espaço urbano - alterar a infraestrutura.

Há uns anos, havia quem defendesse que não era necessário alterar nada - que as bicicletas poderiam facilmente conviver com o tráfego - secalhar ainda há quem assim pense! eu não penso assim, e até sou dos que andam sem problema nenhum no meio de ruas com tráfego intenso e de alta velocidade (Av. Calouste Gulbenkian, Av. da Índia, etc). Mas o espaço urbano não deve ser desenhado para os mais "fortes". Desenhe-se para os mais frágeis, para as crianças e para os idosos, etc... e para os outros estará adequado de certeza.

Na minha opinião, as ciclovias mesmo sendo mazinhas, fomentam o recurso à bicicleta... deram o caso da FCUL (mas também seria interessante perceber porque é que na cidade universitária, é a que tem mais), mas também a nível de escolas secundárias, ainda não vi nenhuma como a Escola Secundária de Vergílio Ferreira, que tem também a ciclovia de Telheiras a passar à porta, e onde há dezenas de bicicletas estacionadas dentro do recinto da escola. A questão que se coloca, é: se tivessemos uma rede verdadeiramente orientada para a mobilidade, como estariam estes exemplos, e quantos mais haveria assim?

Acho que em Lisboa tem havido coisas mal feitas, e coisas bem feitas. Mas acima de tudo, há muito por fazer... A culpa não é só da vereação dos espaços verdes, ou da mobilidade, mas principalmente da CML num todo - culpas repartidas pelo executivo eleito, mas também pelo modo inoperante das estruturas municipais. Quem conhece os atores e interesses envolvidos nestas questões, sabe bem do que falo. Das forças de bloqueio que um grupo de técnicos consegue ter. Da desarticulação entre departamentos e pelouros. De funcionários incompetentes, etc, etc... a isto tudo, soma-se uma população viciada no automóvel, e que tem o poder de eleger o próximo executivo. Executivo que tem de responder às expectativas da maioria dessa população.

Enfim... é fácil encontrar os problemas, mas as soluções meus amigos, são sempre muito mais complexas - isto não quer dizer que não tenha solução, apenas que nem sempre é tão fácil como queremos acreditar.


Miguel Barroso »

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