quarta-feira, 23 de abril de 2014

Manuel Alegre: Poema «Bicicleta de Recados»

Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Pedalo nas palavras atravesso as cidades
bato às portas das casas e vêm homens espantados
ouvir o meu recado ouvir minha canção.


Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Vem gente para a rua a ver a novidade
como se fosse a chegada
do João que foi à Índia
e era o moço mais galante
que havia nas redondezas.
Eu não sou o João que foi à Índia
mas trago todos os soldados que partiram
e as cartas que não escreveram
e as saudades que tiveram
na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.


Desde o Minho ao Algarve
eu vou pelos caminhos.
E vêm homens perguntar se houve milagre
perguntam pela chuva que já tarda
perguntam pelos filhos que foram à guerra
perguntam pelo sol perguntam pela vida
e vêm homens espantados às janelas
ouvir o meu recado ouvir minha canção.


Porque eu trago notícias de todos os filhos
eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos
e um cesto carregado de vindima
eu trago a vida
na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.

  

      Manuel Alegre, in «Praça da Canção», 1965

in http://palaciodasvarandas.blogspot.pt/2014/04/bicicleta-de-recados.html

Sociedade Civil RTP 2 Tema: Ciclismo Urbano

«Cada vez mais a bicicleta deixa de ser um passatempo de fim de semana, passando a ser utilizada, cada vez mais, como meio de transporte no dia-a-dia.
São várias as razões que estão por trás do aumento do ciclismo urbano, desde motivos ambientais, a razões de cariz económico.
Neste Sociedade Civil iremos debater questões tais como: O que motiva os ciclistas urbanos? Que condições existem e o que ainda deve ser feito ao nível das cidades? Que direitos e que deveres têm os ciclistas urbanos? Quais os principais cuidados a ter na partilha da via com os veículos motorizados?
De 2ª a 6ªfeira, Sociedade Civil traz-lhe gente que se dedica a melhorar a nossa vida, cidadãos com uma larga experiência na resolução de problemas, pessoas de várias organizações mobilizadas para soluções nas mais diversas áreas.»


Ver mais em: http://www.rtp.pt/play/p1490/e151395/sociedade-civil-2014

domingo, 6 de abril de 2014

Sex in the Ancient Egypt (Full Documentary)

11 de Setembro no Chile (1973)

Ver: http://www.dw.com/pt-br/1973-golpe-militar-no-chile/a-319346

1973: Golpe militar no Chile

Em 11 de setembro de 1973, sob ordens de Augusto Pinochet, os militares chilenos derrubaram o governo Salvador Allende. O presidente foi morto em circunstâncias não esclarecidas e Pinochet instaurou uma ditadura militar.
default Palácio La Moneda é atingido por bombas
Rádio Corporación: "Aviões da Força Aérea chilena atacaram o prédio da Rádio Corporación. Isso significa que é preciso contar com lutas em todas as fábricas. Isso significa que todos os sindicatos devem entrar em contato com os cinturões industriais e esses, por sua vez, com a central sindical única CUT, a fim de preparar-se para o que necessariamente virá. O importante nesse momento, camaradas, é que o povo esteja unido, venha o que vier! Cada fábrica, cada latifúndio, cada bairro pobre deve transformar-se numa fortaleza popular. Mas temos de manter a tranquilidade, pois somente assim poderemos estar preparados para o que vier. Apesar de tudo isso, temos de manter a cabeça fria e o coração quente."
O que o locutor da emissora sindical Rádio Corporación anunciava com voz trêmula, no final da manhã de 11 de setembro de 1973, já estava em grande parte ultrapassado pelos acontecimentos. Todo o cinturão industrial de Santiago tinha sido cercado pelos militares, que tinham mobilizado armas pesadas. E de que maneira poderiam lutar os trabalhadores?
Primeiro marxista eleito
Fora o próprio presidente Salvador Allende quem recusara terminantemente as reivindicações da extrema esquerda de armar os operários. Ele, o primeiro marxista a ser eleito democraticamente como chefe de Estado e de governo de um país ocidental, acreditou profundamente e durante muito tempo na força da preservação dos valores e tradições democráticos.
Não tinha ele sido conduzido ao poder até mesmo com os votos dos democrata-cristãos? Não tinha ele próprio nomeado o general Augusto Pinochet como chefe do Exército e, assim, comandante-em-chefe da maior das três armas?
Mas o mesmo Pinochet tornara-se o líder do golpe militar de 11 de setembro, que surpreendeu a opinião pública mundial não apenas pela sua brutalidade. O Chile sempre fora tido como um exemplo de situação democrática estável, à qual também os militares se submetiam. Mesmo Allende acreditara até o final na lealdade dos seus oficiais.
Poucas semanas antes do golpe militar, Allende descrevera o Chile marcado pelo seu governo com grande orgulho: "Um país no qual a vida pública está organizada por instituições civis, as quais se apoiam em Forças Armadas com um elevado grau de formação profissional e permeadas de profundo espírito democrático; um país de quase dez milhões de habitantes que produziu dois portadores do prêmio Nobel de Literatura dentro de uma única geração, Gabriela Mistral e Pablo Neruda, ambos filhos de simples trabalhadores".
"Quem foi libertado de quê?"
Poucos dias após os acontecimentos de 11 de setembro, o escritor alemão Heinrich Böll, portador do prêmio Nobel de Literatura de 1972, perguntava num programa de rádio da emissora alemã WDR: "Quem foi libertado de quê através desse golpe? Os esclarecimentos forçados, já quase sem pudor, de uma parte da imprensa mundial, que justifica o golpe no Chile como uma espécie de ilegalidade preventiva necessária, as suspeitas pessoais e políticas contra Salvador Allende, os prognósticos sombrios de uma iminente catástrofe econômica no Chile – nada disso eliminará o fato de que a legalidade foi rompida no Chile, de que predominam o terror, a tortura, a xenofobia e de que a queima de livros foi declarada virtude. São os carrascos que cuidam da paz e da ordem lá".
Realmente, os militares chilenos – aparentemente tão democráticos – atuavam como carrascos. O golpe de Pinochet foi festejado politicamente pelo governo norte-americano de Richard Nixon, do qual também obteve apoio logístico. O golpe militar de 11 de setembro de 1973 foi o sangrento ponto final da política exterior dos EUA contra o socialista Allende, que fora combatido por Washington desde o início do seu governo.
Poucos dias depois da posse de Allende, os Estados Unidos lançaram as suas reservas de cobre no mercado mundial, fazendo com que caísse rápida e drasticamente o preço do principal artigo chileno de exportação no mercado mundial. Dessa maneira, o financiamento das reformas sociais anunciadas por Allende tornou-se praticamente impossível.
Ele só pôde concretizar realmente uma única reforma: o pediatra Allende fez com que todas as crianças chilenas recebessem gratuitamente meio litro de leite, todos os dias, até completarem 8 anos de idade.